Nasci e fui criado em Brasília, mais precisamente na SQS 308. Desde os primeiros anos, tive a oportunidade de vivenciar as obras de arquitetura, urbanismo e paisagismo dos maiores nomes do modernismo do Brasil, absorvendo tanto os aspectos positivos quanto os negativos. Com o passar do tempo, aprofundei minha compreensão da cidade, uma fusão entre minhas experiências de vida e minha formação profissional.
Um aspecto que me chamou profundamente a atenção é a falta de conhecimento dos brasilienses sobre sua própria cidade. Além dos cartões-postais da Esplanada e de algumas expressões artísticas notáveis, como as obras do artista Athos Bulcão, é seguro afirmar que muitas expressões arquitetônicas relevantes são negligenciadas pela maioria da população. Isso resulta na desconsideração da manutenção e preservação desses edifícios, levando, muitas vezes, à mutilação por parte daqueles encarregados de sua conservação.
A SQS 314 se destaca como um exemplo notável. Planejada pelo arquiteto Eduardo Negri, que integrou a equipe de Oscar Niemeyer e projetou cerca de 100 edifícios residenciais no Plano Piloto, a quadra se distingue por sua encantadora uniformidade, um princípio estabelecido por Lúcio Costa na concepção da Superquadra, mas que não se desenvolveu na totalidade do Plano Piloto.
Todos os edifícios da SQS 314 possuem nas fachadas a mesma linguagem. A frontal apresenta uma característica modular, composta por janelas basculantes e revestimento acrílico colorido, cada prédio com sua cor específica, variando entre verde, vermelho, azul ou amarelo. Além disso, o térreo originalmente possuía azulejos desenhados pelo arquiteto exclusivamente para esses edifícios, seguindo também a tonalidade das fachadas.
Atualmente, poucos edifícios da quadra conseguiram manter suas características iniciais intactas, sendo o térreo a parte mais impactada pelo tempo e mudanças. Os responsáveis escolhidos para fazer a preservação e manutenção dos edifícios não possuem o conhecimento necessário para tal, não compreendendo plenamente a importância da preservação para a memória da Capital Federal, que precisa ter seu patrimônio arquitetônico e histórico preservados. No entanto, ao visitar cidades como Paris ou Roma, ficam encantados com a história da arquitetura local.
Nessas cidades e em muitas outras que sonhamos em conhecer, há um esforço consciente e constante para preservar a história da arquitetura local, não apenas por órgãos reguladores, mas também pelo apreço da comunidade. Em Brasília, deveríamos seguir o mesmo caminho, afinal, ocupamos um espaço reconhecido como patrimônio cultural da humanidade. Tenho a preocupação de que, dentro de alguns anos, os azulejos originais de Eduardo Negri possam ser removidos em sua totalidade, dando lugar a revestimentos genéricos, como azulejos industriais ou o granito que se tornou o padrão nas reformas dos edifícios da Asa Sul.
Por esse motivo, a Studio Béco tem como objetivo prestar uma singela homenagem à arquitetura de brasília, mas especialmente à azulejaria de Eduardo Negri neste último lançamento. Apresentamos um pequeno drop composto por dois modelos: uma camiseta boxy estampada com rascunhos feitos à mão por Lúcio Costa e nossa camisa social, de caimento largo e relaxado, com estampas dos azulejos de Eduardo Negri nas costas, disponíveis nas cores azul, verde e vermelho.
G.L.
04/06/2024